sábado, 18 de agosto de 2012

Pátria


Por S.K. e Brucolaques

1. Saudações Mantus! Conte-nos como surgiu a banda e como tem sido a sua jornada até o presente momento.
Mantus - O PATRIA é um projeto recente, fundado em 2008, com a proposta de fazer BLACK METAL primitivo, puro e simples, sem compromisso e visando uma realização muito pessoal da parte de todos os envolvidos. Até o momento temos a demo "Hills of Mist" lançada ainda em 2008, o primeiro álbum "Hymns of Victory and Death" de 2009, o segundo "Sovereign Misanthropy" de 2010, e também o recém-lançado MCD "Gloria Nox Aeterna". Todos lançamentos do selo russo MONOKROM, sub-divisão da HELVETE.RU.

2. Recentemente foi lançado o mais novo CD da banda "Sovereign Misanthropy". Como foi o processo de composição do mesmo e que diferenças você apontaria se comparado com o seu antecessor, "Hymns of Victory and Death"?
Mantus - O processo de composição dos álbuns é sempre muito parecido. Temos as idéias de algumas bases e o restante é composto durante os ensaios já no dia da gravação. Temos nosso próprio home-studio e dessa forma fica tudo mais viável. As composições acontecem quase como de improviso, de uma maneira pouco convencional e é um processo natural que gosto muito, pois considero o que rende os melhores resultados. 70% do material é criado na hora da gravação e dessa forma soa incrivelmente honesto! Entretanto, apesar de similares, creio que exista já uma diferença entre os dois primeiros álbuns. No "Hymns..." ainda estávamos amadurecendo as ideias, formato e até tipo de produção que gostariamos de ter. Já no "Sovereign..." o processo apesar de mais demorado, foi mais fácil e já tiveram algumas poucas mudanças nos encaixes de vocal, adicionamos também alguns coros e tivemos mais dinâmica no andamento das músicas. Talvez seja um trabalho mais diversificado que o "Hymns...".


3. O novo CD conta com um cover de "My Lady Princess of Hell". Pessoalmente, achei a escolha deste cover perfeita, pois considero este split do Songe D'Enfer um clássico do Black Metal nacional. Comente a respeito desta escolha e cite quais outros álbuns nacionais você destacaria como clássicos?
Mantus - O Songe d'Enfer na minha visão foi a melhor banda de Black Metal que o Brasil já teve! Além disso somos amigos de longa data e o nosso baixista Käffer foi o primeiro baixista deles também. Enfim, quando estávamos pensando em gravar um cover, essa opção foi a que mais nos agradou e achamos que seria uma grande homenagem! Também uma forma de fazer mais pessoas interessadas pelo Black Metal brasileiro, conhecerem o Songe d'Enfer, já que a banda não se encontra na ativa atualmente! Percebi que muitos, principalmente os mais novos, não tiveram a oportunidade de escutar a demo "My Visions In The Forest", sem dúvida um dos maiores clássicos do nosso Black Metal, mesmo que ainda em formato fita cassette.
São muitos clássicos nacionais!!! Bom, fugindo então daquela mesmice de Sárcofago e cena metal de Minas, que é pra mim uma das coisas mais significativas que tivemos no Brasil em relação a metal extremo, eu poderia ainda citar discos como o  "Fall Ascension Domination" e "Jacko La Tequila" do Amen Corner, a demo "Lords of Occultism" e o 7EP "Cerimonial Circle" do Nocturnal Worshipper, "And Evil Returns" do Murder Rape, "Wicca" e "Goetia" do Mystfier, A demo "Science of Fear" do Necromancer, entre milhares de outros clássicos. Também não posso esquecer de bandas como o grande Dorsal Atlântica, Azul Limão e Stress, que fazem parte do começo de tudo! 
 
4. "Sovereign Misanthropy" foi lançado pela Monokrom Records (Russia). Porque não lançar pela Höllehammer Propaganda, já que você, Mantus, é responsável pela mesma? Como tem sido a repercussão da banda no âmbito internacional?
Mantus - No momento com todos os planos da Höllehammer ficamos de mãos atadas quanto a isso e acreditamos que o material lançado na Europa tenha uma distribuição automaticamente melhor. Com a Höllehammer negociamos a promoção e distribuição no Brasil apenas! Infelizmente precisamos priorizar certas coisas para que tudo funcione corretamente, e como o PATRIA não é algo com que temos um grande compromisso, achamos melhor dar espaço para outros lançamentos e licenciamentos no Brasil. A repercussão dos CDs do PATRIA tem sido muito boa, mas não tivemos sequer a preocupação com o envio de material promocional para zines/revistas. As resenhas que estão sendo vinculadas foram feitas por conta das próprias publicações e por parte do envio de material do próprio selo. Para enviarmos material infelizmente custa muito caro e como não é algo rentável para nós, decidimos não investir nisso.

5. Ainda não vi flyers ou comentários sobre shows da banda. Porque? Falta de oportunidades ou a banda não foi formada para apresentações ao vivo?
Mantus - Realmente esse não é o nosso foco principal. Temos outros objetivos com a nossa música e grande parte disso tudo acaba sendo uma realização pessoal e não comercial como tem sido o metal de uns bons anos para cá. Não descarto a possibilidade de haver apresentações ao vivo no futuro, e inclusive temos uma formação especial para isso, mas no momento é algo pouco provável, e mesmo que isso venha a acontecer seremos extremamente seletos.

6. Uma coisa que me chamou a atenção na produção gráfica da banda é que tanto o logo quanto as capas dos álbuns são tecnicamente simples se comparados com a maioria das produções atuais. Entretanto, acho que são extremamente objetivos e conseguem passar todo o sentimento frio e obscuro da banda. Comente a respeito da estética da banda e o porque desta escolha.
Mantus - Sempre tivemos a preocupação de mostrar um trabalho incrivelmente simples e acho que atualmente isso se torna até um diferencial. De qualquer forma nosso objetivo com o PATRIA não é mostrar qualquer originalidade ou ir na direção desse comercialismo atual, mas sim resgatar aquela aura Black Metal que era vista verdadeiramente no final dos 80 e principalmente no início dos anos 90, com a cena escandinava ainda em seu momento underground.

7. A qual pátria o título da banda se refere? A julgar pelos títulos das músicas e letras da banda, eu diria que não tem um sentido nacionalista. Ou estou enganado?
Mantus - Você está totalmente certo! O PATRIA não tem NADA de nacionalismo, patriotismo, regionalismo ou qualquer outro "ismo". Nossa verdadeira PÁTRIA é o Black Metal e a escuridão que o cerca. É algo universal e tem seu processo seletivo feito de forma natural com o passar dos anos, onde dentro dele só permanecem as pessoas que realmente acreditam e vivem isso intensamente. É uma pátria que representa a liberdade, orgulhosamente algo que ninguém pode nos tomar, mesmo que para isso tenhamos que encontrar a morte.

8. Além de tocar na banda Patria, você também é integrante da banda Vinterthron e fez parte das bandas Mysteriis e Darkest Hate Warfront. Eu gostaria que você comentasse sobre as diferenças musicais e ideológicas de todas estas bandas e, também, revelasse em qual delas você se sentiu (ou sente) mais conectado, musicalmente e ideologicamente.
Mantus - Minha conexão maior é com certeza com o PATRIA. Por ser algo pessoal e sem qualquer compromisso, as coisas fluem com uma maior naturalidade e só lançamos o material quando estamos 100% satisfeitos com o mesmo. Hoje quem compõe e grava todas as músicas sou eu sozinho e a parte lírica/vocálica é feita pelo nosso vocalista Triumphsword. Somos quase que vizinhos de porta, morando na mesma cidade e isso facilita bastante o processo de criação e desenvolvimento do trabalho.

9. Atualmente, tem surgido várias ferramentas online que ajudam na divulgação das bandas, como por exemplo o Myspace, que além de fornecer um meio de contato com a banda ainda é possível ouvir alguns sons. Qual a sua opinião sobre as tendências da internet e a sua relação com o Black Metal? Tenho a impressão de que aquele radicalismo com relação à internet tem desaparecido aos poucos, o que você acha?
Mantus - A internet realmente já gerou diversas polêmicas em relação ao Black Metal, mas acredito que em uma visão geral existem pontos positivos e negativos nisso tudo. Não vou citar aqui os negativos pois tomaria muitas linhas e ainda sim seria inútil, mas acreditamos que a parte positiva possibilitou grandes bandas e selos no underground serem reconhecidos mundialmente e viverem com maior intensidade o cenário metálico como um todo. As oportunidades são muitas através da internet e sabendo selecionar bem as propostas, dá para fazer um trabalho de qualidade, honesto e o principal, independente. Sem dúvida atualmente todo o radicalismo tem desaparecido e acho que é exatamente por essa conscientização de que é possível usar dessas ferramentas sem perder o "brilho" do underground. O radicalismo válido é aquele feito com consciência e inteligência! Acho que mesclar música e ideologia primitiva com novas ferramentas seja um caminho para uma maior liberdade musical e filosófica, algo que não era inteiramente possível a 10/15 anos atrás, quando éramos obrigados a seguir certas "regras" e "censuras" para estarmos dentro do cast de algum selo e termos nosso material lançado. 

10. Você é o fundador do selo Höllehammer Propaganda, dedicado à vertente do Pagan/Folk Metal. Por qual razão você criou o selo e porque seguir esta linha musical em um país como o Brasil? Você acha que há um cenário forte em todo o território brasileiro para a proliferação desta linha sonora?
Mantus - Na verdade sou um dos sócios do selo juntamente com mais dois grandes amigos. Optamos pelo Black Metal com foco principal nas vertentes Pagan & Folk Metal pelo fato de termos no Brasil um público realmente grande e ainda carente para este estilo nos dias de hoje. Nosso objetivo foi começar algo que oferecesse material de qualidade, nacionais e importados, com preços adaptados a realidade do mercado no Brasil, além de trazer bandas que antes não tinham um grande reconhecimento em nosso país. A maioria dos selos aqui estão interessados em lançar apenas grandes bandas com grande aceitação comercial e não vejo a coisa dessa forma. Viemos para somar e trazer novidades, tenham elas alguma fama ou não por aqui. Acreditamos que temos feito um bom trabalho até o momento e estamos dando o nosso máximo para conseguirmos ir adiante, trazendo cada vez mais novidades para o público brasileiro.

11. Eu gostaria que você comentasse sobre o novo lançamento do Patria que está por vir, o MCD "Gloria Nox Aeterna", via Monokrom. O que podemos esperar deste novo material? Como se deu a idéia da produção do clipe que virá neste trabalho?
Mantus - Considero que nossa música esteja em constante evolução, se é que posso chamar dessa forma. Muitos encaram a palavra "evolução" como algo negativo dentro do metal, mas não é o nosso caso. Não existe amenização! As músicas contidas nesse MCD carregam o mesmo clima intenso das músicas dos primeiros álbums, talvez com um trabalho um pouco mais apurado na produção e composições, que continuam extremamente barulhentas e obscuras, sem qualquer traço de comercialização. A evolução que falo é em relação a um amadurecimento de ideias e principalmente a possibilidade de se fazer algo que já foi feito muitos anos atrás, com nossa própria personalidade, sem soar idêntico ou uma cópia barata. O MCD tem prensagem limitada em apenas 250 cópias numeradas a mão em todo o mundo e conta com 4 faixas exclusivas, nossa demo de 2008 como bônus, além de dois vídeos: o promocional "Old Blood Legacy" de 2009 e o oficial "Culto das Sombras", ambos já lançados no Youtube.
O vídeo "Culto das Sombras" foi feito de forma independente e bastante arcaica na verdade!!! Não queriamos algo super-produzido, pois não é essa a cara da banda. Então encontramos a melhor locação ao meio da natureza aqui na região onde vivemos, juntamos uma equipe de grandes amigos, dispostos e com câmeras de mão amadoras, montamos o cenário de acordo com a idêntidade da música escolhida, e capturamos durante uma noite inteira de filmagens todos os takes e angulos possíveis. Com isso nós mesmos fizemos toda a edição e pós-produção do clipe. O resultado nos surpreendeu muito e tivemos respostas bastante positivas em relação a esse material.

12. Suas últimas palavras para aqueles que vem acompanhando o Patria a cada novo petardo lançado...
Mantus - Agradecemos todo o interesse e apoio a nossa música e realmente esperamos que todos apreciem nossos futuros lançamentos. Estamos aqui para representar o Black Metal e o Brasil da melhor maneira possível, sem nos sujeitarmos a escravização praticada pela indústria musical! Glória a Noite Eterna!!!