sábado, 11 de agosto de 2012

Florestas Negras


Entrevista com a horda Florestas Negras

1. Saudaçõeses Sátiro Pan! Bom para começar esta entrevista conte-nos o que está¡ ouvindo neste exato momento.
Saudações...neste momento estou envolto pela negativa vibração de Under the Pagan Hammer do Faustcoven.

2. Comente um pouco sobre o começo da banda e assim sobre a reestruturação da line-up que a banda teve depois do lançamento de
"Circulo Triunfante de Fogo e Sangue".
Idealizei o culto Florestas Negras em 1999 e começamos a ensaiar no início de 2000. Naquela época a idéia genuína por trás do Florestas Negras era fazer Black Metal Pagão calcado em ideais elitistas, enaltecendo o paganismo Sulamericano e ser uma gota de veneno letal para o cristianismo. Depois do lançamento do Círculo Triunfante de Fogo e Sangue, fizemos um gig com o Incantation (20.11.03), e logo após esse evento ficamos sem baterista e baixista. Depois disso houve uma sucessão de membros, cronologicamente:
2003-2005 
SátiroPã(G/V), Berkana(K), Uruz A (B Session), Lathorn(G Session)
2005-2006
SátiroPã(G/V), Berkana(K), Necrofagus(D), Necrossomus(B),
Reviroth(G)
2006-2007
SátiroPã(G/V),Berkana(K),Necrofagus(D),VladD’hades(B), Reviroth(G)
2007-2008
SátiroPã (G/V), Berkana(K), Necrofagus(D), Vlad D’hades(B)
Atual
SátiroPã (G/V), Necrofagus(D/V), Vlad D’hades(B/V)

3. Recentemente a Berkana deixou a banda. Comente sobre o motivo de sua saí­da e como você diria que está o som atual do Florestas Negras, já que o teclado não está mais presente em seus hinos. Podemos de alguma forma esperar que as músicas ficarão mais agressivas?
A contribuição dela chegou ao fim por motivos pessoais. Mesmo com sua saída houve uma cooperação na gravação do Necro Paganismo Austral, que foi o componente que faltava para que a concepção do opus ficasse completa. Não temos nada a dizer que comprometa a postura e a honra da Berkana em todos os anos que ela permaneceu no clã. Decerto o som está mais direto, mais agressivo, porém, ainda atmosférico. Sem os teclados, exploramos mais riffs com sonoridade dissonante, e algumas combinações que remetem a sentimentos depressivos. Com isso, alguns dos novos sons estão mais lentos, o novo material não terá ou terá muito pouco blasting beats, seguindo uma linha mais mid tempo.

 4. O artefato "Necro Paganismo Austral" foi lançado no formato cassete pela GoatMusic Records. Como foi a gravação desta demo? Quanto tempo demorou para obtê-la a partir do primeiro instante em que ela foi projetada?
A gravação da “Necro Paganismo Austral” ocorreu durante várias sessões de gravações regadas a álcool e dentro de uma atmosfera propícia, com poucas pessoas. Foram 6 longos meses desde o primeiro riff até a masterização, o que nos demandou muita deadicação e paciência.

5. Como aconteceu a oportunidade para que Vlad D’hades participasse na banda? Como foi a entrada de Vlad D’hades para a banda considerando a sua vasta experiência com outras bandas anteriores e projetos paralelos? A sua entrada modificou de alguma forma o processo de crição musical da banda?
Eu já era apreciador da arte negra concebida pelo Vlad há alguns anos até que ele voltou para Brasília e começamos a trocar algumas idéias. Ele também apreciava o som e principalmente a postura do Florestas Negras, e tão logo o Necrossomus se desligou da banda, ele se juntou ao clã. A entrada do Vlad trouxe elementos mais obscuros e negativos ao Florestas Negras, contribuição musical, ideológica e expertise de alguém que conspira com as trevas desde o início dos anos 90.

6. Quais foram as suas inspirações musicais na época da criação da banda? Essas influências mudaram ao longo dos anos desde a origem da banda?
Na época da criação do Florestas Negras eu estava muito ligado em bandas européias e da mesma forma, em bandas do underground brasileiro dos anos 90. Eu ouvia bandas como Emperor, Satyricon, Dark Throne, Arckanum, Mayhem, Enslaved, Burzum, Rotting Christ, Varathron, Samael, Profane Creation, Mystifier (álbuns antigos), Desejo Impuro, Murder Rape, Crucial, Songe D’enfer, Evil, Berzabum, Embalmed Souls dentre muitos outros.Também sempre fui muito ligado em alguns compositores de música clássica, o principal é Richard Wagner.
Mal ou bem, você acaba sendo influenciado pelas coisas que escuta, é um processo natural. Com certeza as influências mudaram, o som ficou mais enegrecido, menos contemplativo, mais beligerante e soturno progressivamente e, apesar de eu escutar ainda muitas das bandas que citei, as composições vão soando cada vez mais de uma forma própria e identitária.

7. Além do Florestas Negras, você Sátiro Pan, está envolvido com algum outro projeto?
Atualmente não estou envolvido com nenhum projeto, estou completamente ligado e comprometido com o Florestas Negras.


8. De que forma o tema paganismo é explorado pelo Florestas Negras em suas músicas e letras? Quais civilizações e culturas pagãs são abordadas?
Nós definitivamente não abordamos um paganismo colorido, não somos um culto a árvores tampouco queremos voltar no passado e montar em cavalos. Exploramos o paganismo em seu lado mais obscuro, nos influenciamos pelas antigas religiões e cultos de um mundo que está morto agora. Nada haver com as recentes religiões neo-pagãs humanistas e politicamente corretas. Particularmente, me interesso pela influência dos deuses nos homens antigos, nas guerras por dominação e expansão de territórios, por sacrifícios, pelo caos, pelo derramamento de sangue, pela oposição ao cristianismo e as doutrinas dos desertos, e pela ligação genuína do paganismo primitivo com as força primordiais de Gaia. Em “Círculo Triunfante de Fogo e Sangue” as nossas letras foram mais direcionadas ao paganismo Sul-americano, sobre as guerras de oposição a cruz e sobre aspectos beligerantes dos povos pré-colombianos. Em “Necro Paganismo Austral” existem elementos de cultura céltica, pré-colombiana (em pitadas bem menores) e influências de revisionismo histórico (Sem ser da 2ª guerra). Apesar de me influenciar por essas culturas ao escrever as letras, procuro não me ater a uma fidelidade a esses temas, nossa arte não é uma aula de história e sim, Black Metal contra as religiões dos desertos, utilizando elementos que não são parte da cultura hebraica-semita, mas seus (de)predadores.


9. Ainda quanto às letras e temática da banda, vejo que de certa forma
o tema "necro"/"morte" permeia as composições da banda ("Necro paganismo austral", "O chamado das falas mortas", etc). Comente a respeito.
Todas as letras do álbum “Necro Paganismo Austral” tratam sobre temas relacionados a morte, a natureza morta. A concepção deste álbum gira em torno de um paganismo necromantico, nostálgico, uma ode ao que está morto e enterrado e que nunca irá retornar. Cinzentos pedaços de histórias perdidas nas brumas do passado, o crepúsculo de um tempo, o inverno de uma era, a noite da antiga ciência, um funeral e cinzas. Isto é o que se pode extrair desse material num contexto geral, esse tipo de sentimento envolto numa série de elementos do paganismo. “Ode ao Deus trovão”, por exemplo, também fala sobre a morte, a morte dos deuses ancestrais, do espírito do mundo antigo e o cumprimento de ciclos, o que envolve concepção e morte. Da mesma forma, “O Agouro”, baseia-se em rituais de vaticínio, necromancia, em que na agonia da morte de uma vítima do sacrifico se obtinha augúrios ou adivinhações do futuro. A morte é um tema que se perpetuará nas letras do Florestas Negras, uma ode ao crepúsculo da humanidade.

10. O que podemos esperar de uma apresentação ao vivo da banda? Quais foram os melhores evento que já tocaram?
Nesses 10 anos de existência, tocamos apenas 6 vezes. No geral, não nos interessamos por apresentações ao vivo: público incompatível, metaleiro, conversas tortas, equipamentos ruins, promotores picaretas. Só tocamos quando realmente temos vontade e quando todos os aspectos envolvidos estão ok para nós: pessoas, estrutura, bandas, vontade. O melhor evento que tocamos foi em 2007 em Brasília “the true samhain”. O que as pessoas podem esperar de uma apresentação do Florestas Negras é apenas frieza e gélido Black Metal.

11. Comente a respeito da cena black metal brasileira atual e aponte aspectos positivos e negativos da mesma.
Com a exceção de poucos maníacos, bandas, selos e zines, todos muito reduzidos, eu não tenho nada de positivo a falar da “cena” brasileira.

12. A respeito dos lançamentos da banda, vejo que a banda possui uma certa admiração pelo formato dos releases. Por exemplo, o CD "Circulo Triunfante de Fogo e Sangue" foi lançado em uma espécie de Digipack e mais, a demo-tape "Necro Paganismo Austral" só foi lançada em tape. Porque não obtaram por usar o CD-R por exemplo?
O nosso debut teve o formato digipack, um dos primeiros lançamentos do subterrâneo brasileiro nesse modelo, e o mérito é todo dos selos que o lançaram na época(2001/2002). Eu acredito que o formato não seja lá tão importante, porque a evolução desses formatos em nosso século é muito dinâmica. De que adianta eu louvar um formato se amanhã ele pode não existir mais? Apesar disso, não tenho muita preferência por CD-R’s, simplesmente não gosto. Eu tenho um grande apreço por materiais lançados em tape e em minha opinião, este formato guarda grande parte da essência que o BM já teve, não por ser uma fita, mas porque me remete aqueles tempos, apenas isso e para mim faz todo o sentido. O Florestas Negras ainda não tinha um lançamento oficial em tape e as tapes estão condenadas a extinção. Então, escolhemos o formato como um tributo ao antigo underground e como uma oposição ao moderno Black Metal “for fun” propagado em comunidades de homossexuais e feito para as massas.



13. Qual o papel da internet para a banda? Como você vê a internet, MP3 e sites de relacionamento, como por exemplo Orkut ou MySpace no contexto underground?
Considero a tecnologia como um fator importante: a nuvem pode oferecer uma série de conteúdos interessantes se você quiser se aprimorar em algumas áreas do conhecimento. Porém, para o Florestas Negras, fora os e-mails, a Internet não tem papel nenhum. Eu acredito que tanto a Internet quanto suas crias como as redes sociais e as famosas “comunidades” nasceram para unir as pessoas, aproximar as pessoas, socializá-las. E ao meu ver, as idéias por trás do Black Metal são o oposto disso, enquanto eles querem unificar, o Black Metal prega (ou pregava) o elitismo, o segregacionismo (de pensadores). Num contexto underground, a coisa chegou a um ponto vergonhoso: as comunidades de “Black Metal” são incontáveis e os “Black metallers” parecem mais adolescentes emos com seus “thanks to add” e toda a baboseira que se lê nessas merdas, declarações de alianças (que todos sabemos serem falsas), amizades plásticas e virtuais, exibição de álbum de fotos com as suas camisetas de bandas, guerras de egos, necessidade de fazer parte de algo, paqueras, enfim...socialização. Para nós é tudo uma piada. Como disse anteriormente, não sou contra a tecnologia, mas não acho que comunidades e merdas do tipo sejam um veículo apropriado para propagar idéias dessa alçada.

14. No release da banda encontramos a seguinte declaração: "Florestas Negras is a underground Pagan Black Metal act and isn't part of any circle or scene". Ao meu ver, entendo isto como uma forma de se distanciar de idiotas, círculos e panelas estúpidas que se formam. Comente a respeito.
O Florestas Negras desde sua concepção segue contra a maré que tenta nos engolir. Nunca precisamos fazer parte de panelas ou movimentos para nos manter, e convivemos o menor tempo possível com determinadas pessoas para confirmar que aglomerações são demasiado humanas e desastrosas: traições, fofocas, inveja e derrota. Todos os círculos de pessoas são iguais e possuem os mesmos vícios, mesmo tendo idéias diferentes. Logo, não fazemos parte de qualquer círculo de pessoas, não fazemos parte de nenhuma gangue de bandas, não aderimos a nenhuma campanha de internet, não levantamos nenhuma bandeira a não ser a de devoção às artes negras, não perdemos nosso tempo com pequeníces, não apoiamos os “Black Metal” reality shows. Andamos com nossas próprias pernas e sem vetas sob os olhos.
  
15. Finalmente, agradeçoo a ti Sátiro Pã pelo seu tempo e atenção dedicada a esta entrevista. Deixe seus comentários finais...
Grato pelo apoio ao Florestas Negras. Aprecio e respeito o Dark Gates Zine desde a primeira edição. Ovelhas da cena, fofoqueiros de plantão e doutrinadores de idiotas, mantenham distância e não percam seu tempo. Florestas Negras é Black Metal Pagão contra as religiões dos desertos!